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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Carta aos socialistas

Hoje muito atacada pela direita e pela esquerda mais extremista em Portugal, a esquerda sofre um processo de renovação e de regeneração.
Longe da antiga ideia comunista que afirmava o Estado como o grande controlador da economia e da sociedade, a esquerda de hoje foi profundamente influenciada pela queda do Muro de Berlim. A queda do Muro não foi apenas a queda simbólica do regime, foi a prova viva de qual a diferença entre as duas ideologias reinantes e qual aquela que criava melhores condições de vida aos seus cidadãos. Neste confronto o capitalismo ganhou o combate por KO, mas também o ganharia aos pontos.
Perante este facto mais que evidente, coube a partir desse momento à esquerda reorganizar a sua ideologia. No entanto nem toda a esquerda se reorganizou, pelo menos em Portugal, onde continua a existir o último partido comunista estalinista da União Europeia, com os seus defeitos e as suas virtudes, e surge um partido da esquerda Trotskista, o Bloco de Esquerda, mais perto da esquerda moderna.
Ao ter isto em mente pensei: "Afinal, o que é a esquerda hoje em dia?". Foi assim que deparei com um livro de Alain Touraine, Carta aos Socialista.
Neste livro o autor aponta um caminho para a esquerda. Ora sabendo que a "direita" triunfou e que esta pode trazer efectivamente riqueza e melhores condições de vida às pessoas, o autor aponta a uma nova ideologia de esquerda que equilibre a "revolução liberal" que aprofunda assimetrias entre índividuos mais desfavorecidos e as camadas mais favorecidas da sociedade. Alain Touraine revela-nos que no seu entender os cidadãos já não se encontram de costas para a sociedade liberal como estavam no famoso Maio de 68, os cidadãos (especialmente os jovens) reclamam uma oportunidade para fazer parte desta sociedade. Assim Touraine, aponta a defesa do Individuo e as diferenças existentes entre estes e o recurso à solidariedade da nova esquerda como um caminho a seguir para oferecer esta oportunidade às pessoas.
Estas ideias devem acentar em 4 pontos:
1- O emprego em vez do aumento de salários.
"(...) Se queremos lutar contra a exclusão e reconstruir o tecido social, os progressos da produtividade devem servir para o aumento do emprego através da redução do tempo de trabalho pessoal com manutenção de salário, e já não para aumentar os salários reais. A luta contra a exlusão deve ter prioridade sobre a melhoria do nível de vida dos empregados. (...) Esta mudança de modelo económico -social é relativamente fácil de concretizar numa sociedade em que os ganhos de produtividade são da ordem de 2% ao ano e em que o custo da assistência aos desempregados é elevado."
2- Abrir a sociedade
"(...) é necessário aceitar o Outro tal como ele é, com a sua cultura, mais do que por aquilo que ele faz, na medida em que a situação não lhe permite fazer. Se nós não reconhecermos a identidade daqueles que esperam diante de uma porta apenas entreaberta, acabaremos por lançá-los, mesmo sem eles quererem , nos braços daqueles que usam o argumento cultural para levar a cabo a sua própria estratégia de poder."
3- Repensar a escola
"No fundo, a melhor escola, tal como a melhor cidade, é aquela que sabe pôr em contacto os individuos mais diversos. Quanto menos homogénea for a escola, social e culturalmente, melhor conseguirá desempenhar o seu papel de despertar das personalidades, que se formam através da comunicação e não através de repetição de códigos geradores de distância e de hierarquia.(...) não é de uma reforma que necessitamos, mas de liberdade, de capacidade de iniciativa, o que não deve de modo algum ser confundido com uma concepção mercantil do ensino universitário."
4- A igualdade entre homens e mulheres
Embora muito possa ser discutida e muita ideia explicitada no livro não ter a minha aceitação, estes serão os parâmetros que terão de ser seguidos pela nova esquerda.
Deixo-vos com uma frase bem humorada da obra:"O que é hoje a esquerda? É a revolta do indivíduo contra o Estado."

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Fúria

Li à pouco tempo o livro Fúria de Salman Rushdie, de referir que que Rushdie é o meu escritor favorito.
Fazendo uma pesquisa nas prateleiras da biblioteca da Mealhada para ver se encontrava um livro que me desafiasse para a leitura, eis então que me surge no horizonte visual o livro de Rushdie. O livro apresenta-se como estando ao nível de Ulisses de James Joyce. Mesmo adorando Rushdie, desconfiei desta comparação, mas decidi arriscar nesta aventura literária, sim aventura, ler Rushdie é para mim uma aventura.
O livro conta a história de Malik Solanka, um professor à procura de um rumo para a sua vida, procurando este rumo em Nova York, a cidade onde desembarca tudo o que a nossa sociedade contemporânea fabrica, desde o material ao espiritual e onde todas as culpas e ódios do mundo acabam por desaguar.
Solanka é o homem contemporâneo em busca de si próprio na grande metrópole Nova Yorkina, que vai encontrar as respostas ás suas questões no amor de uma mulher e numa nação em guerra, do outro lado do mundo.
O livro descreve muito bem a cidade e o misto cultural que lá vive, as guerras que se formam entre as diferentes etnias. É um retrato cruo, sombrio e perturbador da nossa sociedade, que nos faz perguntar para onde caminhamos.
"(...) o verdadeiro problema eram os danos não da máquina mas do coração desejoso, e a linguagem do coração estava a perder-se. A questão era um excesso de danos do coração, não a tonificação dos músculos, não a comida, nem o feng shui nem o karma, nem a impiedade nem Deus. Era esta Doença dos Nervos que deixava as pessoas ensandecidas: excesso não de bens de consumo mas de esperanças desfeitas e frutradas. Aqui na América (...) as expectativsas humanas nunca tinham estado tão altas na história humana, e o mesmo acontecia, é claro, com as decepções humanas. Quando incendiários punham o Oeste a arder, quando um homem pegava numa espingarda e desatava a matar amigos, (...) esta decepção era demasiado fraca, era o motor que dirigia a expressividade-de-língua-presa dos assassinos. Este era o único tema: o esmagar de sonhos numa terra em que o direito a sonhar era a pedra angular da ideologia nacional (...)"
  • "A perfectibilidade do Homem não é mais, poder-se-ia dizer, que uma piada de mau gosto de Deus";
  • "O Estado não pode fazer-nos felizes (...) não pode tornar-nos pessoas boas ou curar-nos de um desgosto de amor. O Estado gere escolas, mas será que pode ensinar os nossos filhos a gostar de ler, ou será essa nossa função? Há um Serviço Nacional de Saúde, mas que pode ele fazer em relação à enorme percentagem de pessoas que vai ao médico precisar? Há bairros sociais, claro, mas a boa vizinhança não é uma questão governamental.";
  • "Se a cultura era o novo secularismo do mundo, então a nova religião era fama e a indústria- ou melhor, a Igreja,- da celebridade viria dar trabalho sério a uma nova ecclesia, uma missão de proselitismo destinada a conquistar esta nova fronteira, (...) desenvolvendo novos combustíveis a partir da má-língua e levando os Escolhidos até às estrelas.";
  • "Há uma nova hipersensibilidade cultural, um modo quase patológico de ofender.";
  • "Viver na metrópole era saber que o excepcional era tão comum como um refrigerante sem açúcar, que a anormalidade era a norma da pipoca.";
  • "(...) a ignorância, desde que apoiada numa quantidade suficiente de dólares, se tornava sabedoria.";
  • "Uma cidade de meias-verdades e ecos, que domina, vá-se lá saber como, a Terra.";
  • " O Paraíso, era um lugar de que só as pessoas com mais pinta e mais massa em Nova Iorque possuiam o número secreto.";
  • "A necessidade de a América, tornar as coisas americanas, era a marca de uma estranha insegurança.";
  • "Quando os vivos chegam a acordo dentro de si mesmos em estarem mortos, então começa a fúria tenebrosa. A fúria tenebrosa da vida, recusando-se a morrer antes do tempo destinado.";
  • "Qualquer americano que se preze conhece os nomes, pelo menos, de meia dúzia de medicamentos eficaz na gestão de humores."

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Caim

É impossível ler Caim sem passar ao lado de toda a polémica que Saramago criou à volta deste livro. No entanto, de todos os que aparecem a defender Saramago sempre que este é atacado por católicos ou pela própria Igreja, quantos realmente leram a obra Caim?
Na verdade nunca li nenhum livro de Saramago, mas decidi ler o Caim para perceber melhor tudo o que se diz por aí. Quando me pus a ler Saramago pensei: " Eh pá vou me pôr a ler uma merda pesada, boa mas dificil de digerir." Por acaso de vez em quando gosto de ler obras pesadas, mas não estou para isso neste momento. O que sucedeu no entanto foi completamente o contrário, a obra é muito leve, lê-se muito bem, mas... não é boa (para mim). Embora não tenha lido mais nada de Saramago, tenho a certeza que não foi por este tipo de literatura que Saramago ganhou o prémio Nobel, se bem que quem dá um prémio Nobel da Paz ao Obama, também é capaz de entregar outros prémios Nobeis a quem não mereça.
Saramago ataca com unhas e dentes o Antigo Testamento, de facto uma obra sangrenta e cruel que mostra um Deus muito vingativo, sem qualquer tipo de misericórdia e sem senso de justiça. Tudo isto podeia ser verdade, mas o conceito de justiça que havia quando se escreveu o Antigo Testamento não é o mesmo que hoje, as histórias presentes no Antigo e Novo Testamento não podem ser levadas à letra, à apenas que retirar a ideia (a moral da história), apreendê-la e saber que devemos segui-la ou Deus punir-nos-á, não podemos levar a história de Job ou de Sodoma e Gomorra à letra.
É verdade que o Homem pode criticar a justiça divina, para isso basta olhar-mos para o mundo à nossa volta, mas será que deve criticá-la? Aquilo que eu me apercebo é que se a justiça divina é má a do Homem é péssima, mais uma vez, olhemos à nossa volta.
Voltando mais profundamente à obra literária de Saramago, a história do livro é a de Caim que assassina o irmão Abel por este ser o preferido de Deus e Deus condena-o a vaguear pelo mundo. Depois disto Caim passa pelos principais momentos do Antigo Testamento, queda dos muros de Jericó, a Torre de Babel, Sodoma e Gomorra... e vai perdendo a fé em Deus com tudo o que vê.
Os diálogos entre Deus e Caim são sempre construídos de modo a que Caim fique "por cima de Deus", Saramago critica uma obra antiga mas usa estes diálogos de modo muito actual, chegando ao ponto de pôr no pensamento de Caim conhecimentos cientificos. Sente-se na escrita de Saramago que o escritor começa, a partir do momento em que Caim começa a pôr em questão Deus e as suas acções, a simpatizar com Caim e a descrevê-lo de forma benévola. Esqueceu-se que Caim matou o irmão, ou basta não gostar de Deus para se ser boa pessoa?
Depois ao longo do livro Saramago tenta escrever com humor. Só isto basta para nos fazer rir, o livro falha completamente nas passagens humoristicas por um simples facto: basta ouvir Saramago falar para perceber que ele não tem qualquer tipo de sentido de humor.
Para mim a ideia mais sensata que Saramago nos passa encontra-se no ultimo parágrafo. Querem saber qual é? Leiam...
Não posso deixar passar em claro o facto de Saramago e muitos comunistas mostrarem um ódio enorme pela Igreja Católica e a acusarem de milhares de mortes, então e o comunismo que matou e continua a matar? Para o sr. Saramago e seus acólitos a Igreja é má, mas o comunismo é um bom exemplo?
Deixo a pergunta: Quem matou mais pessoas, a Igreja ou os regimes comunistas?
Outro facto que me preocupa, é o de muitos ateus se mostrarem hoje mais fanáticos do que a própria Igreja. A diferença entre ateus fanáticos e católicos fanáticos é ZERO.
Deixo aqui algumas passagens interessantes de Caim:
"Quanto ao senhor e as suas esporádicas visitas, a primeira foi para ver se adão e eva haviam tido problemas com a instalação doméstica, a segunda para saber se tinham beneficiado alguma coisa da experiência da vida campestre e a terceira para avisar que tão cedo não esperava voltar, pois tinha de fazer a ronda pelos outros paraisos existentes no espaço celeste."
Abel dedicava-se à pecuária, Caim à agricultura: "Há que reconhecer que a distribuição de mão-de-obra doméstica era absolutamente satisfatória, uma vez que cobria por inteiro os dois mais importantes sectores da economia da época."
"...Por serem, como se diz, inescrutáveis os vossos designios, perguntou caim, Essas palavras não as disse nenhum deus que eu conheça, nunca nos passaria pela cabeça dizer que os nossos designios são inescrutáveis, isso foi coisa inventada por homens que presumem ser tu cá, tu lá com a divindade."
"Chorar o leite derramado não é tão inútil como se diz, é de alguma maneira instrutivo porque nos mostra a verdadeira dimensão da frivolidade de certos procedimentos humanos."
"...almocreves somos e pela estrada andamos. Tanto sábios como ignorantes."
"...nunca não é o contrário de tarde, o contrário de tarde é demasiado tarde."
"...Eis o que diz o senhor, deus de israel, pegue cada um numa espada, regressem ao acampamento e vão de porta em porta, matando cada um de vocês o irmão, amigo, vizinho."
"...Lúcifer sabia bem o que fazia quando se rebelou contra deus..."
"...Como sempre tem sucedido, à minima derrota os judeus perdem a vontade de lutar (...) a choradeira verbal é inevitável."
"... caim é o que matou o irmão, caim é o que nasceu para ver o inenarrável, caim é o que odeia deus..." (nota-se que saramago começa a simpatizar com o caim desta história, porque se começa a rever nas suas ideias).
" Apesar de assassino, caim é um homem intrinsecamente honesto..." (MAIS PROVAS?????)
"... admites então que haja no universo uma outra força, diferente e mais poderosa que a tua, É possível, não tenho por hábito discutir transcendências ociosas..."
"...talvez não saibas que os barcos flutuam porque todo o corpo submergido num fluido experimenta um impulso vertical e para cima igual ao peso do volume desalojado, é o principio de arquimedes..."
P.S. Sou agnóstico.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Plano Infinito

Depois de ler a bela obra de Homero, A Iliada, decidi ler um livro mais "leve", O Plano Infinito (PI) de Isabel Allende(IA).

A dicotomia entre estes 2 livros é por demais evidente, mas será o de IA pior? Ok, a Iliada é um clássico e é um livro "pesado", mas o Plano Infinito é noutro prisma, também um livro bastante bom. Isto só prova que a literatura não precisa ser pesada para ser boa. A literatura divide-se em 2 blocos apenas, boa e má.

O PI conta-nos a história de vida Gregory Reeves, o companheiro/marido (não sei bem), de IA que ela já nos dá a conhecer na sua obra, Paula.

IA aproveita a história de vida de Gregory Reeves para passar por toda a história dos EU, desde a Grande Depressão até ao inicio dos anos 90.

O livro é recheado de boas personagens, desde Gregory Reeves o homem atormentado pela sua infância e pela guerra, um homem à procura de um caminho para a felicidade e que normalmente a procura no sitio errado, como muitos de nós.

Depois temos Pedro Morales, o patriarca da familia do ghetto mexicano, e sua esposa Inmaculada Morales.

Carmen ou Tamar, a personagem oposta a Gregory Reeves, pode-se dizer que um é a face boa da vida e as escolhas certas e outro a face oposta, com opções erradas.

É dificil descrever todas as personagens, a familia de Gregory, o pai, a mãe e a irmã, é uma familia disfuncional, mas que representa bem um certo estereótipo de familia existente.

As mulheres de Reeves, que nos representam a futilidade e a coqueteria de grande parte das mulheres ocidentais.

Enfim, um manancial de personagens que IA tão bem sabe construir e explorar de forma sublime e que nos faz pensar que isto não é apenas uma obra de ficção, isto existe mesmo.

A parte do livro que mais gostei, foi a parte dos anos 60 e a revolução hippie, IA dá-nos uma visão absolutamente realista daquilo que eram os hippies, e com a qual eu concordo inteiramente. IA mostra-nos que toda a existência passava acima de tudo por não fazer nada, arranjar desculpas e razões para fazer grandes orgias e ter sexo com tudo e todos, e claro as drogas. No meio da revolução hippie apenas se aproveitou o rock n'roll. Aliás a geração hippie foi a mesma geração que lançou a febre consumista e materialista, dos anos 70 e 80. Alguém consegue desmentir isto?

Ao que se resume esta obra: "NA VIDA NUNCA SE CHEGA A NENHUM LADO. VIVE-SE, NADA MAIS."




sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A Desilusão de Deus

Li há pouco tempo mais um livro religioso, ou melhor um livro não-religioso, de Richard Dawkins: "A desilusão de Deus".

O autor, ao que parece um ateu bem conhecido nos EUA e entre a comunidade católica, pelo menos ele assim apregoa, é um ateu que nos quer convencer através de episódios contidos nas 3 religiões com mais seguidores Catolicismo, Islamismo e Hinduísmo, e pelas palavras e actos dos seus responsáveis que não existe essa "coisa" chamada Deus.

Durante todo o livro ele acusa as religiões e seus responsáveis de fanatismo, fundamentalismo e de tentativa de control das massas, acabando ele próprio por ser um fanático e fundamentalista não-religioso. Impressionante como normalmente quem segue cegamente uma ideologia contra outra, acaba sempre por se tornar uma versão diferente daquilo que tanto odeia. A História está cheia destes exemplos e de facto muitos ateus, acabam por fazer exactamente os mesmos erros que imputam, e muitas vezes com razão, ás religiões.

Como agnóstico prefiro questionar e não afirmar.

O autor desta obra vai-nos informando, de forma bastante envaidecida, que os seus amigos (que obviamente partilham as suas ideias, porque um fundamentalista ou um idealista não tem amigos que pensem de forma diferente da sua), lhe dizem que ele é considerado pela igreja Norte Americana como o Satã ou o Anti-Cristo dos tempos modernos. Uma ideia que o autor subliminarmente "abençoa" para a sua pessoa. Penso que este senhor deve adorar espelhos.

Da obra li os capítulos que mais me interessavam e aqui ficam algumas frases tiradas do livro, confesso que a maioria nem são do autor original, mas sim transcrições de outros autores que ele nos apresenta.

Uma das coisas que aprendi, quiçá a de maior importância, foi que os EUA não foram fundados como país cristão, como a direita norte americana tanto apregoa. Aqui fica a transcrição de um tratado de 1796 assinado por John Adams em 1797, durante a presidência de George Washington: " Considerando que o governo dos EU não é, em nenhum sentido, fundado na religião cristã; considerando que não o move qualquer inimizade contra as leis, religião ou tranquilidade dos muçulmanos, e conferindo que os referidos Estados nunca moveram qualquer guerra ou acto de hostilidade contra qualquer nação maometana, é declarado pelas partes que nenhum pretexto resultante de opiniões religiosas deverá alguma vez ser razão para uma interrupção da harmonia existente entre os 2 países".

Neste tratado podemos ver que os EUA foram fundados com uma base secular. Hoje esta base secular, é ignorado pelas igrejas católicas americanas e pelos milhares de pastores norte americanos, assim como pelos politicos que não têm actualmente outra saída senão aceitar a não- secularidade do Estado.

EINSTEIN: "Eu não tento imaginar um Deus pessoal; basta mostrar reverência pela estrutura do mundo, na medida que ele permita aos nossos insuficientes sentidos apreciá-lo".

RALPH EMERSON: "A religião de uma época é o entretenimento literário da época seguinte."

THOMAS JEFFERSON: "Na nossa intituição não devia haver lugar para uma cátedra de teologia."

EINSTEIN: " Estranha é a nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta visita, sem saber porquê, contudo, por vezes parecemos adivinhar um objectivo. No entanto do ponto de vista do quotidiano, há uma coisa que sabemos: que o homem está aqui pelos outros homens- acima de tudo por aqueles cujos sorrisos e bem-estar depende a nossa felicidade."

SEAN O'CASEY: " A política chacinou os seus milhares, mas a religião chacinou as suas dezenas de milhares."

VICTOR HUGO: " Há em cadeia aldeia um archote- o mestre escola; é uma boca que sopra para o apagar- o pároco."

STEVEN WEINBERG:" Com ou sem religião haverá sempre gente boa a fazer o bem e gente má a fazer o mal. Mas é preciso religião para colocar gente boa a fazer o mal."

BLAISE PASCAL: "Os homens nunca fazem o mal tão completamente e tão alegremente como quando o fazem por convicção religiosa".

Agora como agnóstico digo a frase da minha preferência da autoria de Abert Einstein: " A ciência sem a religião é coxa, mas a religião sem a ciência é cega".

Boas orações ou lá o que é, como diria uma conhecida personagem de Salman Rushdie.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Sétimo Selo

Acabei de ler o Sétimo Selo de José Rodrigues dos Santos. A sua escrita assemelha-se à de Dan Brown, para quem gosta de thrillers e de conspirações é óptimo.

A obra fala da descoberta de uma energia alternativa ao petróleo, e do esforço das companhias petrolíferas para abafarem essa descoberta.

Durante todo o livro vão sendo expostos factos preocupantes da industria petrolífera.

Depois de 3 choques petrolíferos, o de 74 com o embargo árabe, o de 79 com a revolução iraniana e o de 91 com a guerra do Golfo (a crise petrolifera recente não é mencionada pelo autor, devido à data em que foi escrito o livro).

A história desenrola-se em Coimbra, Sibéria, Áustria e Austrália.

Eis alguns dos factos que José Rodrigues dos Santos nos apresenta:

- Com a deslocação do gelo, o Polo Sul desloca-se todos os anos 10 metros em direcção à América do Sul;
- A invasão nazi à URSS tinha como objectivo controlar o petróleo;
- Entre 1960 e 1990 o gelo do Polo Norte ficou 40% mais fino;
- Entre a era glaciar e a nossa, a diferença de temperatura é de apenas 5 graus;
- Os aerossóis diminuem a temperatura e o dióxido de carbono aumenta;
- A China pretende construir mais 300 centros de carvão até 2020;
- Baikal, o maior lago do mundo fica na Sibéria, que tem quinto da água potável de todo o mundo, é maior que Portugal.

O autor diz-nos que é urgente investir em energias alternativas, pois o petróleo de todos os campos petroliferos do mundo já passaram o seu pico de produção uns á cerca de 30 anos, outros à 20 anos.

A grande esperança do mundo são os campos de petróleo da Arábia Saudita. O grande problema destes campos, é a sua produção não ser controlada por nenhum organismo oficial, assim o mundo não sabe o petróleo que existe nestes campos. Os sauditas afirmam que o pico de produção destes campos ainda está longe de chegar e que os campos jorrarão petróleo durante mais de 100 anos ainda, outras pessoas pensam que o pico de produção destes campos já passou à algum tempo e quando os campos sauditas secarem, apanharão os governos e as economias desprevenidas. Provocarão grandes crises, fome, paralisação de economias e guerras.

Junta-se a tudo isto o facto dos governos dos países desenvolvidos olharem para o lado em termos de questões ambientais e do aquecimento global, as economias e as civilizações não estão preparadas para a escassez de petróleo. Entretanto países como a China e a India preparam-se para serem grandes consumidores de petróleo, aumentando assim as emissões de combustíveis fósseis para o ambiente, acelarando assim o aquecimento global e aumentando a produção de petróelo, que cada vez mais vai escaciando no globo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Nietzsche

Decidi ler a biografia de Nietzsche e uma parte da sua obra acima de tudo porque adoro a sua obra: " O Anticristo", embora a sua restante obra não me diga muito.


Nietzsche além das questões filosóficas tinha também grande interesse por questões musicais, era um enorme admirador da música de Wagner sendo também um grande amigo seu, mais tarde iria chatear-se como Wagner e criticar muito o seu trabalho.


Devido a uma infância complicada não se consegue adaptar à sociedade, algo que lhe iria ser útil mais tarde para a sua obra.


Sendo um aluno brilhante, tinha como autores preferidos Platão, Shakespeare, Byron e Rosseau, no inicio da sua obra a sua maior influência é de Schopenhauer.


Nietzsche abre-se paras a filosofia através de Schopenhauer, fascinado com o seu inquebrável compromisso com a verdade. Nietzsche partilhava com Schopenhauer o pessimismo metafísico, segundo o qual a vontade está sempre em sofrimento devido à insatisfação dos desejos. Segundo o filósofo, a música enquanto arte global era uma das possibilidades de consolar este sofrimento humano.


Durante a sua adolescência Nietzsche começou a sentir problemas de saúde, problemas esses que se iria intensificar a até ao fim da sua vida, impedindo-o de trabalhar nos últimos anos da sua vida, Nietzsche tinha uma saúde débil e sofria de constantes dores de cabeça.


Niezsche foi professor de filologia em Basileia durante dez anos, altura em que frequentava a casa de Wagner que considerava ser um artista global cuja obra extinguiria a decadência que o espirito ocidental tinha sofrido desde o final da Grécia clássica.


A 2 de Maio de 1880 Nietzsche renúncia ao seu lugar de professor na universidade de Basileia, devido ás constantes enxaquecas que já não lhe permitiam leccionar.


Em 1889 finda a sua vida intelectual.


De 1894 a 1900 é sua irmã que toma conta dele, falecendo em 1900.


A sua irmã uma nacionalista anti-semita funda o Nietzsche- archiv, fazendo de Nietzsche o prova de uma nova e grande Alemanha. Esta manipulação da obra de Nietzsche iria culminar com a eleição do partido nazi em 1934 ao poder.


Nietzsche, Wagner e Schopenhauer foram artistas conotados ao partido Nazi, visto Hitler ser admirador destes artistas.


Compreende-se a fácil manipulação da obra de Nietzsche, que defendia que os homens deveriam ser governados por uma grande força ou um grande homem, ele defendia que havia homens fracos e que os mais fortes não deveriam preocupar-se com os outros, não devia haver qualquer tipo de misericórdia ou pena destes.


Quando Nietzsche falava no sentido moral, dizia que para que o individuo molde o seu comportamento ás necessidades da sociedade, pode e deve ser utilizada a coacção, por vezes a voz autoritária da comunidade que ganha a forma de consciência.


Em 1872 pública a Origem da Tragédia, que revela o contraste entre a cultura grega anterior e posterior a Sócrates, menosprezando a última, manifestando que a cultura alemão contemporânea se assemelhava à cultura grega posterior a Sócrates, só podendo ser salva pelo espírito da música de Wagner.


A obra de Nietzsche é riquissima, no entanto passarei à parte que realmente me interessa, o Anticristo.


Nietzsche diz-nos que ao contrário do que se crê, a humanidade não representa uma evolução para algo de melhor, o progresso é uma ideia moderna e falsa, o homem de hoje não vale mais que o homem do renascimento. No entanto em diferentes locais manifesta-se um tipo superior de homem, espécie que em relação à maioria é uma espécie de ultra-homem.


Para Nietzsche o Cristianismo travou uma guerra de morte contra o tipo de homem superior, baniu todos os instintos fundamentais de tal tipo, e desses destilou o mal e o pernicioso, criou do homem forte uma imagem de homem abominável. O Cristianismo tomou partido de tudo o que é fraco, baixo e falhado, ensinou o desprezo pelos valores da intelectualidade.

Nietzsche deixa-nos a questão: Que haveria num Deus que não conhecesse a cólera, a vingança, o castigo, que não ignorasse o gosto da vitória e da destruição? Quando um povo entra em colapso, quando sente a sua fé no futuro fugir, quando sente a liberdade esvair-se, então há que mudar o seu Deus. Torna-se então o Deus sonso, humilde. aconselha a paz da alma e até o amor para com os amigos e inimigos. Moraliza constantemente, faz-se o Deus de toda a gente, chega a tornar-se cosmopolita... Outrora simbolizava a força do povo e a sua sede de poder e afirmação, agora é simplesmente o Deus bom de todos os homens... Vê-se que não os deuses não têm alternativa: ou são a vontade do poder, sendo assim os deuses de um povo, ou são a impotência do poder, e então tornam-se forçosamente bons...

Os judeus são o povo mais singular da História Universal e porquê? Simplesmente porque postos diante da condição do ser ou não ser, eles escolhem o SER A QUALQUER PREÇO, um preço que foi a falsificação de toda a natureza, de toda a naturalidade, de toda a realidade, de todo o mundo interior e exterior. Delimitaram-se a si mesmos contra todas as condições sob as quais até então podia viver, perverteram a religião, o culto, a moral, a história e a psicologia e fizeram deles a contradição dos seus valores naturais. A Igreja Cristã limitou-se a copiar este fenómeno em proporções incalculáveis. Os Judeus falsearam de tal modo a história e a humanidade que ainda hoje um cristão se pode sentir anti-judeu, sem se compreender a si mesmo como a última consequência do judaísmo.

No Anticristo a autor tenta destrinçar algumas das mensagens de Cristo, ou se quisermos dar-nos a sua visão da mensagem de Cristo. Sobre a "Boa Nova", o Nietzsche escreve que a vida eterna, não é prometida, está aqui em nós: como vida no amor, no amor sem retraimento e exclusão, sem distância. Cada um é filho de Deus. " O Reino de Deus está em vós".

Falta em toda a "psicologia" do Evangelho o conceito de culpa e de castigo, igualmente falta o conceito de recompensa. O «pecado», toda a relação de distância entre o homem e Deus, é suprimido. Ai está novamente a "Boa Nova". A beatude não está prometida, não se encontra vinculada ás condições que a Igreja nos instiga, ela é a única realidade.

Podemos então dizer que toda a doutrina eclesiástica judaica foi negada na "Boa Nova".

O "Reino dos Céus" não é algo que se espere, ou que se encontre, não vá amanhã ou dentro de mil anos- é uma experiência dentro de um coração, está em toda a parte e não está lado nenhum...

Quanto a Jesus, Nietzsche segue passando-nos a mensagem que a sua morte não foi para redimir os nossos pecados, a sua morte foi igual à sua vida, ele morreu como ensinara, Jesus apenas nos quis ensinar como deviamos viver. A Prática foi o maior bem que nos deixou: a sua atitude perante os seus juízes, perante os que o ultrajaram, o seu comportamento na cruz, é esta a sua verdadeira lição.

As palavras proferidas ao ladrão na cruz resumem o Evangelho: "- Este é um verdadeiro homem de Deus - diz o ladrão.", " Se sentes isso então estás no paraíso, és também um filho de Deus - responde Jesus.". Não se defender, não se encolerizar...mas também não resistir ao mal- amá-lo...

Após a morte de Jesus, os seus díscipulos ao contrário dos ensinamentos do mestre, subjugaram-se a palavras, como ressentimento, vingança, juízo... O que deveria ter sido o inicio do Evangelho, descambou num sentimento contrário aos ensinamentos de Jesus. Para os seus seguidores era impossível a causa terminar com a morte do Redentor, e a promessa da vinda do "Reino dos Céus", para vingar os assassinos do Mestre e os seus seguidores. É então que o "Reino dos Céus" passa a ser não a realidade, algo ao alcance de todos nós, mas uma promessa, um sonho, um sonho de sangue, de vingança.

Mas os estragos na mensagem do nazareno não ficariam por aqui, na sua ânsia de encontrarem um sentido para a morte de Jesus os seus discipulos questionavam-se: Como podia Deus admitir tal situação? E então acaba-se com o Evangelho: ele morreu na cruz por nós, pelos nossos pecados. Suprime-se assim a "Boa Nova" de Jesus e o seu "Reino dos Céus".

É então que surge o ódio de Nietzsche por Paulo. Paulo diz: " Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé".

Paulo era Nietzsche o contrário do alegre mensageiro, o génio do ódio. Paulo sacrifica toda a vida de Jesus, a sua vida e doutrina. Para Paulo não foi Cristo importante, mas sim a cruz. Ele inventou uma história mirambulante de ressurreição, uma segunda vinda do Messias, o castigo para os pecadores. A sua necessidade era o poder, com Paulo o padre quis apenas o poder, utilizou conceitos , doutrinas, simbolos, por meio dos quais se tiranizaram as multidões e se formam os rebanhos.

Nietzsche afirma-nos que a única coisa que Maomé foi buscar ao Cristianismo, foi esta invenção de Paulo, o seu meio de tirania sacerdotal: a fé na imortalidade, ou seja, a doutrina do juízo...

Transcreverei um excerto do Anticristo, onde se compreende o porquê do nazismo ter ido beber a Nietzsche: "Conceder a imortalidade a cada Paulo e Pedro foi até agora o maior e mais pérfido ataque à humanidade nobre. (...). Hoje, ninguém mais tem coragem do privilégios, dos direitos de dominação, do sentimento de reverência por si e pelos seus pares... (...) O aristocracismo foi minado, na sua dimensão mais subterrânea, pela mentira da igualdade das almas; e se a fá no «privilégio da maioria» constitui e constituirá revoluções, é o Cristianismo, são os juízos de valor cristãos, que traduzem toda a revolução simplesmente em sangue e em crime! O Cristianismo é uma insurreição de tudo o que rasteja pelo chão contra o que tem sublimidade: o Evangelho dos pequenos empequenece...

Querem outra: " O cristão esta ultima ratio da mentira, é uma vez mais o judeu- três vezes ele próprio..."

Nieztsche dá-nos algumas passagens, algo "evangélicas" da bíblia, segundo Nietzsche, palavras que foram colocadas na boca de Jesus: "Não julgues", dizem eles. Mas mandam para o inferno tudo o que se encontra no seu caminho.

" E se alguns vos não rceberem e ouvirem, saí dali e sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles. Em verdade vos digo, Sodoma e Gomorra serão no dia do juízo tratadas com menos rigor que essa cidade." Muito evangélico...

"Em verdade vos digo: há alguns aqui presentes que não morrerão antes de ver chegar o Reino dos Céus no seu poder." Será mesmo?

"Não julgueís para não ser julgado. Com a medida com que medirdes, vos será medido." Um juíz pouco integro...

"Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo". Todas as coisas, a saber: alimentos, vestuário, todas as necessidades da vida.

Passagem de Paulo: " Acaso não sabeis que os santos julgarão o mundo? E se é por vós que o mundo vai ser julgado, seríeis então ineptos para julgar as coisas mínimas?" Parece um discurso de um louco internado... mas prossegue:" Não sabeis que julgaremos os anjos? Quanto mais os bens temporais".

Enquanto o padre surgir como tipo superior de homem, esse negador, caluniador e envenenador da vida por profissão, não haverá resposta para a pergunta: o que é a verdade? Enquanto assim for a verdade estará virada de cabeça por baixo. O que um padre afirma verdadeiro, deverá ser certamente falso.

Querem saber o que arruina uma divindade: Quando ela se torna «coisa em si».

Isto são apenas alguns pensamentos de Nietzsche e do seu anticristo, aconselho quem questiona a doutrina da Igreja Católica a ler.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Pensamento de Santo Agostinho

“ Que amo eu, quando vos amo? Não amo a formosura corporal, nem a glória temporal, nem a claridade da luz, (…), nem a doce melodia das canções (…), nem o suave cheiro das flores dos perfumes ou dos aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão flexíveis aos abraços da carne.
Nada disto amo quando amo o meu Deus.
E contudo amo uma luz, uma voz, um perfume, um alimento e um abraço, quando amo o meu Deus, luz, voz, perfume e abraço do homem interior, onde brilha para a minha alma uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não arrebata, onde se exala um perfume que o vento não esparge, onde se saboreia uma comida que a sofreguidão não diminui, onde se sente um contacto que a saciedade não desfaz.
Eis o que amo, quando amo o meu Deus.”

Penso que esta passagem será a que melhor exemplifica o pensamento de Santo Agostinho, ou Agostinho de Hipona.

Ele foi o homem que inseriu as ideias platónicas na Igreja Cristã do Ocidente.

Santo Agostinho colocou na Igreja católica do Ocidente o conceito da elevação espiritual e da sabedoria, como o meio de chegar a Deus e à felicidade suprema.

Para Agostinho o mal não existia em si mesmo, o que existia era a ausência do bem que equivale ao nada, ou seja, se tudo o que é criado por Deus é bom (porque Deus só cria o bem), o mal não existe e tudo o que é mau não existe.

Agostinho procurava a verdade, utilizando a razão.

Numa altura em que o Império Romano do Ocidente se desmoronava a religião católica tinha sido aceite pelo imperador Constantino, o primeiro imperador cristão e fundador de Constantinopla, no Concílio de Niceia.

Para Agostinho, Deus revelou-se ao homem através do Verbo, sendo a Palavra tudo para Agostinho. É através da Palavra que Agostinho se aproxima de Deus e é através Dela, que quer aproximar o homem de Deus. O seu amor pelo Verbo poderá ter a ver com a circunstância de ter estudado gramática e eloquência, sendo um brilhante aluno, tornando-se mais tarde professor. Depois de ter lido a obra de Cícero, Hortensius, aprendeu a amar a filosofia e com a influência de Ambrósio, bispo de Milão, aproximou-se do cristianismo, com a obra de São Paulo converteu-se.

Embora Ambrósio seja o responsável pela aproximação de Agostinho à fé cristã, é interessante observar a diferente visão que tinham do meio de chegar a Deus. Se Ambrósio era um firme partidário da fé baseada na revelação, estando a sua posição ancorada na erudição e na referência recorrente aos clássicos gregos (uma visão do mundo que se estava a extinguir no séc. IV) desprezando a filosofia, Agostinho cria na filosofia para pensar criativamente no interior das crenças cristãs e dogmas da Igreja.

Ele é o criador da teoria do pecado original, Agostinho explica que o pecado original vem da fraqueza da alma (liberdade) e não do corpo, que já é impuro e imperfeito. Isto acontece porque Adão e Eva sucumbiram ao pecado, ao orgulho, ao amor-próprio e não amor de Deus. Assim sendo o pecado tem uma face hereditária e é da exclusiva responsabilidade do homem.

Sua mãe, Mónica, mais tarde canonizada e designada hoje por Santa Mónica, foi também de uma grande preponderância para a conversão de Agostinho ao cristianismo. Mónica era uma mulher extremamente devota para quem o facto de seu filho ser maniqueísta, ser uma razão para um sofrimento desmedido. Na altura da sua morte, disse a Agostinho que partia em paz pois sabia que o filho tinha obtido a salvação, através da conversão e baptismo.

Será importante também fazer um enquadramento histórico da era de Agostinho, pois Agostinho viveu numa era em que não só Roma declarava o cristianismo como a sua religião, mas também foi nesta altura, mais precisamente em 410, que os exércitos Godos comandados por Alarico, invadem Roma. Esta invasão serviu de pretexto para que os pagãos acusassem os cristãos por esta invasão, invocando a renúncia dos cristãos aos deuses clássicos como a causa da queda do Império, que há muito se vinha desmoronando.

Em Hipona Agostinho teve grande preocupação com as repressões que poderiam cair sobre os cristãos, centrando a defesa da Igreja católica contra a donatista. Foi nesta altura que Agostinho escreve uma das suas obras-primas, A Cidade de Deus, na qual defende a elevação da cidade espiritual (a de Deus) sobre cidade material (a do Homem).

Agostinho morre em 430, numa altura que a Hipona estava cercado pelas tropas de Genserico, e Roma tinha caído nas mãos dos povos bárbaros.

Como já escrevi Santo Agostinho acreditava que a razão e o pensamento filosófico, deveria ser a base da fé católica, só com estes pressupostos de poderia atingir Deus e consequentemente a felicidade.

A fórmula de Agostinho misturava filosofia, teologia e ontologia para obter um certo “espírito” que fala da actividade do homem no mundo e a sua relação com Deus. A sua fé embora firme não é cega, para isso ele usa a razão, para que através de um entendimento racional o homem consiga entender a natureza da sua relação com Deus. A mente, ou alma, como diz o pensamento agostiniano, é a ferramenta que Deus deu ao homem para O entender, e Agostinho pela primeira vez na história da humanidade faz essa viagem, da imanência psicológica à transcendência metafísica.

Seria importante nesta altura civilizacional, no Ocidente, que o homem buscasse neste santo algumas respostas e reflexões.

Numa altura em que no Ocidente se vive uma clara crise de valores e em que a cidade material se sobrepôs claramente à cidade espiritual, algo falhou no nosso mundo ocidental. A constante procura dos bens materiais a todo o custo, uma civilização que tende cada vez mais a confundir liberdade com direitos, deverá buscar em si uma profunda reflexão.

A civilização ocidental padece neste momento de uma enorme maleita, não apontarei o dedo ao consumismo directamente, mas no ocidente vive-se cada vez mais com o seguinte pensamento: “Se quero, tenho direito!”.

Temos de nos mentalizar que não temos o direito a tudo só porque o desejamos, não é só porque queremos algo que o temos de ter a toda a força. Este mal revela-se não só nos bens materiais, mas também nos imateriais.

Seria bom fazermos uma introspecção como nos pede Agostinho de Hipona, reflectir sobre o que necessitamos mesmo e o que é dispensável. Para isto a fórmula de Agostinho é hoje tão actual como o era no séc. V, baseado nos valores da bíblia e de Deus que são os pilares da civilização ocidental, fazermos uma viagem espiritual e perguntarmo-nos: “O que preciso mesmo para a minha felicidade?”.

Não andaremos a idolatrar falsos ídolos? Não estaremos embrulhados em muita coisa superficial? Não olhamos demais para nós e pouco para o mundo? Não desejamos muitas vezes algo que nos vai fazer deixar para trás a nossa verdadeira felicidade?

“ Ignorante, precipitava-me tão cegamente, que entre os companheiros da minha idade, me envergonhava de ser menos infame que eles. Ouvia-os jactarem-se de suas ignomínias e tanto mais se vangloriavam quanto mais depravados eram. Assim, praticava o mal não só pelo deleite da acção, mas ainda para ser louvado. (…) Se não cometesse pecado com que igualasse os mais corrompidos, fingia ter cometido o que não praticara, para que não parecesse mais abjecto quanto mais inocente, e mais vil quanto mais casto.”

Agostinho influenciou também grandes filósofos e pensadores como Nietzsche, Schopenhauer e Tomás de Aquino.
Este texto é escrito por um não-crente mas que gosta de pensar.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Os Filhos da Rua Arbat

Acabei à pouco de ler os Filhos da Rua Arbat, um livro obrigatório para quem quiser conhecer a vida e o poder na União Soviética nos anos 30, durante a industrialização intensiva da URSS.

O livro faz parte de uma trilogia sobre a implementação do terror na URSS por Estaline.

O livro mostra-nos a história de cidadões normais desde militares, a trabalhadores das fábricas e do Estado, até ao funcionamento da máquina do Partido nas mais altas esferas dando principal relevância ao comportamento de Estaline.

A história principal do livro é a de Sacha Pankratov, um jovem russo orgulhoso de fazer parte do Partido, que se vê em problemas primeiro por causa de um mural de um jornal da escola, depois por não ter denunciado um funcionário da escola por um comentário politico, sendo colocado no degredo por isso.

O livro mostra-nos as condições em que viviam os degredados na Sibéria, mostrando a injustiça do sistema comunista onde se podiam apanhar 20 anos de degredo ou até o fuzilamento por dizer mal da politica do Partido, apanhando-se penas de 2 e 3 anos por assassinios.

O livro está recheado de personagens tipo:

Sacha é um jovem cheio de valores, com grande paixão pelo Partido e por Estaline, que luta sempre por defender os mais fracos e que tem no seu tio Mark, um alto funcionário do Partido, um exemplo e inspiração.

Sofia Alieksandrovna a mãe de Sacha, sofre pê-lo degredo do filho que nunca sabe estar vivo e bem ou sequer onde se encontra. Sofia sofre não só pelo filho mas também para manter a sua casa, o marido abandono-a e não apoia sequer Sacha no degredo e sofre também a exclusão social a que os familiares dos degredados eram votados. Já tinha lido o livro de Maximo Gorki, A Mãe, e a verdade é que durante todas as revoluções são elas que mais sofrem com as desgraças em que caem os seus filhos, mas também conseguem sempre redescobrir-se a si próprias nestas alturas e lutar ao lado dos seus.

Varia a jovem rebelde e enamorada de Sacha, é uma jovem revoltada com a vida e que decide casar com um jogador de bilhar, Kostia, abandonando o seu lar e a sua irmão Nina. Vai viver para casa de Sofia com o seu marido, tornando-se o principal apoio de Sofia. Mais tarde separa-se de Kostia, entre brigas, dívidas e ameaças de morte, enamora-se por Sacha à distância e é Sofia que se torna o seu apoio.

Iura Charok é o oposto de Sacha na obra, é um jovem filho de alfaiate que quer subir na vida a todo o custo atropelando quem tiver de atropelar, inclusive amigos, rapaz sem principios éticos ou morais é sem surpresa que consegue subir dentro do sistema do Partido.

Muitas mais personagens haveria para discutir neste best seller, personagens essas que eram o retrato fiel da antiga União Soviética.


Ainda assim à que referir mais duas personagens politicas deste livro: Estaline e Kirov.


A descrição de Estaline e o seu modo de acção e pensamento estão fenomenais, Estaline tinha uma personalidade completamante arruinada por uma infância violenta e infeliz em Gori.


Era um homem para quem qualquer critica era uma oposição politica e uma tentativa de descredebilizá-lo, era manipulador e mesquinho e vivia em constante sobressalto porque sabia que não era a escolha de Lenine para o suceder à frente do Partido como fez crer a todos os russos.

O Georgiano não era dotado de grandes dotes oratórios como era Hitler, por exemplo, era sim um manipulador nato que conseguia mexer sempre os recursos disponíveis para conseguir os seus intentos, tanto através da burocracia como da violência.

Li o livro documental de Jonathan Fenby, A Aliança, e tinha ficado exatamente com esta mesma imagem de Estaline.

Estaline dizia quando tinha de tomar decisões dificeis: "Se morrerem milhões com a minha decisão não tem importância, a História dar-me-á razão".

Do outro lado do Partido aparece Kirov, o menino querido do Partido com uma personalidade completamente diferente de Estaline, amado na URSS e especialmente em Leninegrado, Kirov via o comunismo de uma perspectiva diferente de Estaline, via-o como Lenine via. Sim porque Estaline não via o comunismo como Lenine, ele usou a imagem de Lenine e deturpou a sua mensagem para justificar muitos dos seus actos.

Kirov era apontado como o sucessor natural de Estaline no poder.

Kirov acaba por morrer num atentado com contornos demasiado estranhos. No livro o atentado é planeado por Estaline para fjustificar a implementação na Russia da sua máquina de terror e repressão.

Na realidade desconfia-se que a morte de Kirov teria sido mesmo arquictetada por Estaline, como acontece no romance, pois com a morte de Kirov Estaline teve a justificação que tanto desejava para lançar a repressão e o terror na URSS, que sabia serem o único caminho para a sua perpetuação no poder.


Os Filhos da Rua Arbat foi o livro mais vendido na Russia durante a Perestroika.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Dostóievski- Crónicas do Subterrâneo

Tentarei fazer pequenos resumos de livros que li ou que estou a ler, dando uma perspectiva mais pessoal da obra.

Este foi um livro que li à cerca de 3 semanas, foi o meu segundo livro de Dostóievski e tenho de dizer que pensava ir encontrar nos dois livros que li dele um artista pesado, mas não. Tenho a revelar que é uma literatura, que embora profunda, é de uma leveza que nos leva a devorar o livro. O livro de Dostóievski que li antes das Crónicas do Subterrâneo foi O Jogador.

Dostóievski é considerado como o primeiro escritor existencialista. E o que é o existencialismo?

O existencialismo é uma corrente filosófica que destaca a liberdade de cada homem, as suas responsabilidades e a sua subjectividade. No existencialismo o homem é responsabilizado pelos seus actos e consequentemente pelo seu destino.

Nas Crónicas do Subterrâneo (CS) Fiodor Dostóievski (FD) leva-nos ao mundo de um homem amargurado com a sua vida, embora durante todo o livro ele mostrar que sabe o porquê da sua amargura e desilusão. E a resposta a esse porquê, está nos seus actos.

Na primeira parte do livro a personagem tenta mostrar a sua visão particular do mundo, aquilo que o apoquenta e as suas fraquezas, tentando por um lado, arranjar desculpa para os seus actos e para a sua situação, por outro lado acaba sempre por demonstrar que a responsabilidade pela sua situação actual é toda sua.

Impressionou-me o facto de muitas das situações descritas pela personagem (que não tem nome), conseguir fazer-me pensar que já passei por algumas daquelas situações e a pensar as mesmas coisas.

Na segunda parte o homem sai do subterrâneo e entra no mundo real, o seu mundo, onde nos apercebe-mos que ele é incapaz de amar, incapaz de fazer amizades, infeliz com o seu trabalho, desonesto com o seu criado, que tem de comprar a comida para a casa com o seu ordenado, e cruel com a mulher que ama.

Este anti-herói tem todos estes defeitos, mas sabe que os tem e que paga bem caro por eles, e embora tente culpar os outros pela sua desgraça, acaba sempre por se consciencializar que é ele com os seus actos, que cava a sua própria sepultura.

Da segunda parte destaco a hilariante cena do restaurante, sim porque FD consegue sempre usar uma linguagem humorística, um comedy relief bem particular, nesta sua obra.

Esta devia ser uma obra obrigatória nesta sociedade onde a culpa dos nossos actos é sempre dos outros: amigos, desemprego, exclusão social...