quinta-feira, 16 de julho de 2009

Pisar o Risco

Depois de ler Pisar o Risco de Salman Rushdie, deixo aqui alguns pensamentos e frases do autor:

- "(...) E é verdade que a história humana transborda de opressão colectiva exercida pelos cocheiros dos deuses. E todavia, no entender das pessoas religiosas, o conforto individual que a religião confere compensa que suficientemente o mal feito em seu nome."

-"(...) é o próprio absurdo das versões religiosas que incita os seus adeptos a reiterarem com uma crescente estridência a necessidade de uma fé cega."

- "A libertação intelectual na Europa, significou sobretudo a emancipação frente ás imposições da Igreja, e não do Estado."

- "A história dos versiculos satânicos, diz-nos que em certa ocasião, o Profeta foi confrontado com alguns versículos que pareciam aceitar a divindade das 3 deusas pagãs mais populares de Meca, comprometendo desse modo o monoteísmo rígido do Islão. Mais tarde, o Profeta rejeitaria esses versículos como um embuste do diabo, dizendo que Satã lhe aparecera disfarçado de Arcanjo Gabriel e lhe recitara os seus Versículos Satãnicos."

- "Para o fundamentalismo religioso, e sobretudo, na actualidade, para o fundamentalismo islâmico, o adjectivo «laico» é a mais suja das palavras sujas."

- "Os laicistas sabem que um Estado-nação moderno não pode ser construído na base de ideias que surgiram no deserto da Arábia há mais de 1300 anos."

- "Os fundamentalistas declaram sempre que é a simplicidade que procuram, mas a verdade é que são obscurantistas em tudo. O que é simples é aceitar que se alguém pode dizer:«Deus existe», outra pessoa pode dizer: «Deus não existe». O que nada tem de simples é exigirem-nos que acreditamos que há só uma verdade, só uma maneira de exprimir essa verdade, e só um castigo -a morte- para os que entenderem que não é assim."

- "Os líderes europeus honram em palavras os ideias das Luzes - liberdade de expressão, direitos humanos, separação da Igreja e o Estado. Mas quando estes ideais batem na banalidade poderosa daquilo a que se chama «realidade»-negócios, dinheiro, armas, poder- estão prontos a deixar cair a liberdade."

- "Os Hitlers da história podem ter caído, mas a cadela que os pariu está outra vez com o cio."

- "O conhecimento humano imperfeito talvez seja uma estrada acidentada, cheia de buracos, mas é o único caminho de conhecimento digno de ser tomado."

- "Definição moderna de democracia: Um homem, um suborno"

- "O exílio é o sonho de um regresso glorioso."

- "A perseguição religiosa nunca é uma questão moral, mas sempre uma questão de poder."

- "A habituação é a rendição."

- "É do proprio medo que devemos ter medo" (F. Roosevelt)

- "A viagem cria-nos."

- " O Santo Graal é uma quimera. O Santo Graal é a própria demanda pelo Santo Graal."

domingo, 5 de julho de 2009

Salman Rushdie: Abril de 1999: MÚSICA ROCK

"Há pouco tempo perguntei a Vaclav Havel se admirava de facto Lou Reed. Ele replicou que era impossivel sobrestimar a importância da música rock para a resistência checa durante os anos de trevas que passaram entre a Primavera de Praga e o colapso do regime comunista. Eu começava a saborear a imagem mental dos líderes do underground checo acertando o passo ao ritmo de Velvet Underground, quando Havel acrescentou com o ar mais sério do mundo: "Porque é que achas que falámos de Revolução de Veludo?"(...) Tratava-se de uma brincadeira que escondia uma verdade mais literal- para os entusiastas da música popular de uma certa classe de idade as ideias de rock e de revolução são ideias indissoluvelmente ligadas. "Vocês dizem que querem uma revolução" dizia John Lennon, provocando-nos. "Bem como sabem/ todos nós queremos mudar o mundo". E a verdade é que com o passar dos anos comecei a pensar que essa associação era um pouco mais simples que simples romantismo juvenil. Por isso, descobrir que uma verdadeira revolução fora inspirada pelos rugidos de sedução do rock era realmente comovente. Fazia-me sentir uma espécie de validação.( Salman soube que Havel não estava a brincar, ele dissera exactamente a mesma coisa anos mais tarde a Lou Reed).

Hoje que já ninguém parte guitarras opu protesta sobre coisa que se veja, hoje que o rock entrou na meia idade e se organizou em associações comerciais, hoje que os mais jovens ouvem rap, trance e hip-hop, e Bob Dylan e Aretha Franklin são convidados a cantar nas investiduras presidenciais, esquecem-se com facilidade as origens oposicionais da forma, a sua carga anti-establishment de outrora. Todavia, o espirito de revolta, rude e seguro de si do rock talvez seja uma das razões que fez com que o seu som estranho, simples e imparável tenha conquistado o mundo à cerca de meio século, atravessando todas as fronteiras e todas as barreiras da língua e da cultura, acabando por se tornar o terceiro fenómeno global da história, a seguir ás guerras mundiais. Era o som da libertação e falava, por isso, aos jovens espiritos livres de toda a parte- o que, como é evidente, as nossas mães não apreciavam por aí além.

(...)

O que parecia ser e sentíamos como liberdade parecia ao mundo adulto qualquer coisa como mau comportamento, e em certo sentido, os dois lados estavam certos. (...) A liberdade, essa antiga anarquia que bate o pé, é um valor mais alto e mais bravio que o bom comportamento,e , apesar de todo o seu espirito de revolta hirsuta da madrugada, representa um risco muito menor de desembocar em devastações graves que a obediência cega e o respeito hirto perante as convenções. É preferivel a destruição de umas tantas suites de hotel à destruição do mundo.

(...) Existe em nós qualquer coisa que se limita a desejar seguir a multidão. (...)Mas nós continuamos a querer ser conduzidos, a seguir senhores da guerra mesquinhos e ayatollahs assassinos e dirigentes nacionalistas brutais, ou a chupar no dedo escutando docilmente os Estados-infantário que sabem melhor do que nós o que nos convém. É por isso que os tiranos abundam, e que até mesmo aqueles de entre nós que fazem parte de países idealmente livres deixaram de ser, na sua maioria, espíritos rock n' roll.

A música de liberdade assusta as pessoas e desencadeia toda a espécie de mecanismos de defesa conservadores. (...)

Supunha-se que a queda dos regimes comunistas e a destruição da Cortina de Ferro e do Muro trariam uma nova era de liberdade. Em vez disso, o mundo que veio depois da guerra fria, ainda informe e cheio de possibilidades, fez com que muitos de nós ficássemos cheios de medo. Refugiámo-nos ao abrigo de cortinas de ferro mais pequenas, construímos paliçadas um pouco menos altas, fechámo-nos em definições mais estreitas, cada vez mais fanáticas, de nós próprios- definições religiosas, regionais, étnicas- e começámos a preparar-nos para a guerra.

Hoje, enquanto o ribombar de uma dessas guerras submerge a doçura do canto da melhor parte de nós próprios, descubro em mim a nostalgia do velho espírito de independência e de idealismo que outrora, propagado pela música, nos ajudou a acabar com outra guerra (no Vietname). Mas hoje a única música que ouvimos no ar é a de uma marcha fúnebre."

Salman Rushdie: Abril de 1999: MÚSICA ROCK

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Nietzsche

- Os erros dos grandes homens são dignos de elogios, pois são mais frutíferos do que a verdade dos pequenos.

- A moralidade é primordialmente um meio de preservar a comunidade e de evitar a sua destruição.

- O homem é uma ponte e não um fim.

- Compadecer-se é a prática do niilismo.

- O que um padre diz ser verdadeiro é na realidade falso.

- Que é que destrói mais rapidamente do que trabalhar, pensar, sentir, sem prazer?

- O Budismo não promete mas cumpre, o Cristianismo tudo promete e nada cumpre.

- Em Paulo personifica-se o ódio, o génio do ódio, na visão do ódio.

- O Cristão é apenas um judeu de confissão «mais liberal».

Turismo os caminhos

Se entre 2004 e 2007 o turismo global explodiu, com um crescimento médio de 3.6% ao ano, devo a variados factores, entre os mais importantes uma economia mundial estável, preços dos combustíveis baixos, desaparecimento do medo pós 11 de Setembro e crescimento das low-cost, o começo da crise no segundo semestre de 2008 provocou uma descida de 1% no crescimento turistico, com especial afectação nos países desenvolvidos e do BRIC. Isto deveu-se a uma maior dependência do turismo em maior escala por parte destas nações, que têm também um indice de turismo interno elevado, onde o impacto da crise foi menor.

Há casos que ilustram bem o tamanho da crise na indústria, a China que em 2004 tinha ultrapassado a Itália como o quarto país mais visitado do mundo, viu o seu número de visitantes baixar em 7% e as receitas do turismo descer 15%.

Em Espanha no mês de Fevereiro, as chegadas desceram 16%, em relação ao período homólogo do ano anterior.

O Conselho Mundial de Viagens e Turismo prevê para este ano uma contracção de 3.5% este ano na indústria, com a eliminação de 10 milhões de postos de trabalho até ano ínicio de 2011.

O Turismo é neste momento a maior indústri mundial envolvendo 7.6% dos empregos de todo o mundo e gerando 9.4% do rendimento global, e ainda podemos olhar para as suas ligações a outros sectores da economia, como a construcção, fábricas, petróleo, alimentar, etc...

Em plena crise e por factores específicos da própria indústria, alguns governos começaram a olhar para o turismo como o meio mais eficaz para relançar as suas economias, no periodo pós crise. Se a Islândia depois da bancarrota, tem no turismo a bandeira para reerguer a sua economia, em Espanha serão injectados 1300 milhões de dólares para a modernização das infra-estruturas turísticas espanholas, para combater destinos como a Turquia ou o Egipto que acabaram por se tornar mais apetecíveis devido à valorização do Euro. Nas Canárias, o Conselho Municipal do Turismo iniciou um conjunto de seminários para melhor preparar os trabalhadores da área, e sensibilizá-los para a importância que eles têm para o sucesso turistíco da região.

A Itália está decidida em apostar na publicidade dos seus destinos, os seus alvos são o Canadá, os EUA e a Europa, nos anúncios pode-se ouvir a música clássica e visualizar-se as paisagens e monumentos transalpinos. Pode parecer excessivo para um país forte no sector como a Itália? Então atente-mos no facto de em 2008 o turismo italiano ter registado uma quebra de 5%, perdas de 5200 milhões de dólares e 150 mil empregados.

Depois temos também as perdas das companhias aéreas, que prevêem uma contracção do tráfego de pessoas em 5.7%, com prejuízos que vão até os 4700 milhões de dólares. A esta situação acrescenta-se o facto de o preço do petróleo se achar numa grande instabilidade.

No sudeste asiático, países como o Vietname, Cambodja, Malásia e Tailândia decidiram baixar os preços dos vistos, numa estratégia conjunta com as companhias aéreas, hotéis e demais sítios turisticos, que também se comprumeteram a rever os preços em baixa.

Nas Caraíbas a Elite Islands Resorts, irá aceitar acções desvalorizadas como forma de pagamento.

Na Coreia do Sul a desvalorização do won ajudou a atrair mais 7% de turistas, incluindo mais 50% de turistas do Japão. A Coreia do Sul foi mesmo o país asiático que mais cresceu.

Na China as autoridades locais distribuíram cupões de viagens internas.

Na Grã-Bretanha haverá este ano, mais 5 milhões de turistas internos.

Visto isto será grande o desafio dos agentes turisticos nos próximos tempos, mas também está bem patente que o turismo poderá ser também a boia de salvação para alguns países. Isto porque ao contrário de certas indústrias onde os investimentos requerem um grande esforço financeiro, o Turismo requer menos investimento e a relação custo/proveito, será mais certa do que em noutros ramos.

Quanto aos países desenvolvidos, numa altura em que as familias dispõem de menos meios para viajar, pode ser no "vá para fora cá dentro", que se encontre o caminho mais proveitoso para o negócio. Convencer os turistas a visitar o próprio país, mostrando-lhes que poderam ter umas boas férias e por menos dinheiro. Transformar turistas externos em turistas internos.