segunda-feira, 29 de junho de 2009

Nietzsche

Decidi ler a biografia de Nietzsche e uma parte da sua obra acima de tudo porque adoro a sua obra: " O Anticristo", embora a sua restante obra não me diga muito.


Nietzsche além das questões filosóficas tinha também grande interesse por questões musicais, era um enorme admirador da música de Wagner sendo também um grande amigo seu, mais tarde iria chatear-se como Wagner e criticar muito o seu trabalho.


Devido a uma infância complicada não se consegue adaptar à sociedade, algo que lhe iria ser útil mais tarde para a sua obra.


Sendo um aluno brilhante, tinha como autores preferidos Platão, Shakespeare, Byron e Rosseau, no inicio da sua obra a sua maior influência é de Schopenhauer.


Nietzsche abre-se paras a filosofia através de Schopenhauer, fascinado com o seu inquebrável compromisso com a verdade. Nietzsche partilhava com Schopenhauer o pessimismo metafísico, segundo o qual a vontade está sempre em sofrimento devido à insatisfação dos desejos. Segundo o filósofo, a música enquanto arte global era uma das possibilidades de consolar este sofrimento humano.


Durante a sua adolescência Nietzsche começou a sentir problemas de saúde, problemas esses que se iria intensificar a até ao fim da sua vida, impedindo-o de trabalhar nos últimos anos da sua vida, Nietzsche tinha uma saúde débil e sofria de constantes dores de cabeça.


Niezsche foi professor de filologia em Basileia durante dez anos, altura em que frequentava a casa de Wagner que considerava ser um artista global cuja obra extinguiria a decadência que o espirito ocidental tinha sofrido desde o final da Grécia clássica.


A 2 de Maio de 1880 Nietzsche renúncia ao seu lugar de professor na universidade de Basileia, devido ás constantes enxaquecas que já não lhe permitiam leccionar.


Em 1889 finda a sua vida intelectual.


De 1894 a 1900 é sua irmã que toma conta dele, falecendo em 1900.


A sua irmã uma nacionalista anti-semita funda o Nietzsche- archiv, fazendo de Nietzsche o prova de uma nova e grande Alemanha. Esta manipulação da obra de Nietzsche iria culminar com a eleição do partido nazi em 1934 ao poder.


Nietzsche, Wagner e Schopenhauer foram artistas conotados ao partido Nazi, visto Hitler ser admirador destes artistas.


Compreende-se a fácil manipulação da obra de Nietzsche, que defendia que os homens deveriam ser governados por uma grande força ou um grande homem, ele defendia que havia homens fracos e que os mais fortes não deveriam preocupar-se com os outros, não devia haver qualquer tipo de misericórdia ou pena destes.


Quando Nietzsche falava no sentido moral, dizia que para que o individuo molde o seu comportamento ás necessidades da sociedade, pode e deve ser utilizada a coacção, por vezes a voz autoritária da comunidade que ganha a forma de consciência.


Em 1872 pública a Origem da Tragédia, que revela o contraste entre a cultura grega anterior e posterior a Sócrates, menosprezando a última, manifestando que a cultura alemão contemporânea se assemelhava à cultura grega posterior a Sócrates, só podendo ser salva pelo espírito da música de Wagner.


A obra de Nietzsche é riquissima, no entanto passarei à parte que realmente me interessa, o Anticristo.


Nietzsche diz-nos que ao contrário do que se crê, a humanidade não representa uma evolução para algo de melhor, o progresso é uma ideia moderna e falsa, o homem de hoje não vale mais que o homem do renascimento. No entanto em diferentes locais manifesta-se um tipo superior de homem, espécie que em relação à maioria é uma espécie de ultra-homem.


Para Nietzsche o Cristianismo travou uma guerra de morte contra o tipo de homem superior, baniu todos os instintos fundamentais de tal tipo, e desses destilou o mal e o pernicioso, criou do homem forte uma imagem de homem abominável. O Cristianismo tomou partido de tudo o que é fraco, baixo e falhado, ensinou o desprezo pelos valores da intelectualidade.

Nietzsche deixa-nos a questão: Que haveria num Deus que não conhecesse a cólera, a vingança, o castigo, que não ignorasse o gosto da vitória e da destruição? Quando um povo entra em colapso, quando sente a sua fé no futuro fugir, quando sente a liberdade esvair-se, então há que mudar o seu Deus. Torna-se então o Deus sonso, humilde. aconselha a paz da alma e até o amor para com os amigos e inimigos. Moraliza constantemente, faz-se o Deus de toda a gente, chega a tornar-se cosmopolita... Outrora simbolizava a força do povo e a sua sede de poder e afirmação, agora é simplesmente o Deus bom de todos os homens... Vê-se que não os deuses não têm alternativa: ou são a vontade do poder, sendo assim os deuses de um povo, ou são a impotência do poder, e então tornam-se forçosamente bons...

Os judeus são o povo mais singular da História Universal e porquê? Simplesmente porque postos diante da condição do ser ou não ser, eles escolhem o SER A QUALQUER PREÇO, um preço que foi a falsificação de toda a natureza, de toda a naturalidade, de toda a realidade, de todo o mundo interior e exterior. Delimitaram-se a si mesmos contra todas as condições sob as quais até então podia viver, perverteram a religião, o culto, a moral, a história e a psicologia e fizeram deles a contradição dos seus valores naturais. A Igreja Cristã limitou-se a copiar este fenómeno em proporções incalculáveis. Os Judeus falsearam de tal modo a história e a humanidade que ainda hoje um cristão se pode sentir anti-judeu, sem se compreender a si mesmo como a última consequência do judaísmo.

No Anticristo a autor tenta destrinçar algumas das mensagens de Cristo, ou se quisermos dar-nos a sua visão da mensagem de Cristo. Sobre a "Boa Nova", o Nietzsche escreve que a vida eterna, não é prometida, está aqui em nós: como vida no amor, no amor sem retraimento e exclusão, sem distância. Cada um é filho de Deus. " O Reino de Deus está em vós".

Falta em toda a "psicologia" do Evangelho o conceito de culpa e de castigo, igualmente falta o conceito de recompensa. O «pecado», toda a relação de distância entre o homem e Deus, é suprimido. Ai está novamente a "Boa Nova". A beatude não está prometida, não se encontra vinculada ás condições que a Igreja nos instiga, ela é a única realidade.

Podemos então dizer que toda a doutrina eclesiástica judaica foi negada na "Boa Nova".

O "Reino dos Céus" não é algo que se espere, ou que se encontre, não vá amanhã ou dentro de mil anos- é uma experiência dentro de um coração, está em toda a parte e não está lado nenhum...

Quanto a Jesus, Nietzsche segue passando-nos a mensagem que a sua morte não foi para redimir os nossos pecados, a sua morte foi igual à sua vida, ele morreu como ensinara, Jesus apenas nos quis ensinar como deviamos viver. A Prática foi o maior bem que nos deixou: a sua atitude perante os seus juízes, perante os que o ultrajaram, o seu comportamento na cruz, é esta a sua verdadeira lição.

As palavras proferidas ao ladrão na cruz resumem o Evangelho: "- Este é um verdadeiro homem de Deus - diz o ladrão.", " Se sentes isso então estás no paraíso, és também um filho de Deus - responde Jesus.". Não se defender, não se encolerizar...mas também não resistir ao mal- amá-lo...

Após a morte de Jesus, os seus díscipulos ao contrário dos ensinamentos do mestre, subjugaram-se a palavras, como ressentimento, vingança, juízo... O que deveria ter sido o inicio do Evangelho, descambou num sentimento contrário aos ensinamentos de Jesus. Para os seus seguidores era impossível a causa terminar com a morte do Redentor, e a promessa da vinda do "Reino dos Céus", para vingar os assassinos do Mestre e os seus seguidores. É então que o "Reino dos Céus" passa a ser não a realidade, algo ao alcance de todos nós, mas uma promessa, um sonho, um sonho de sangue, de vingança.

Mas os estragos na mensagem do nazareno não ficariam por aqui, na sua ânsia de encontrarem um sentido para a morte de Jesus os seus discipulos questionavam-se: Como podia Deus admitir tal situação? E então acaba-se com o Evangelho: ele morreu na cruz por nós, pelos nossos pecados. Suprime-se assim a "Boa Nova" de Jesus e o seu "Reino dos Céus".

É então que surge o ódio de Nietzsche por Paulo. Paulo diz: " Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé".

Paulo era Nietzsche o contrário do alegre mensageiro, o génio do ódio. Paulo sacrifica toda a vida de Jesus, a sua vida e doutrina. Para Paulo não foi Cristo importante, mas sim a cruz. Ele inventou uma história mirambulante de ressurreição, uma segunda vinda do Messias, o castigo para os pecadores. A sua necessidade era o poder, com Paulo o padre quis apenas o poder, utilizou conceitos , doutrinas, simbolos, por meio dos quais se tiranizaram as multidões e se formam os rebanhos.

Nietzsche afirma-nos que a única coisa que Maomé foi buscar ao Cristianismo, foi esta invenção de Paulo, o seu meio de tirania sacerdotal: a fé na imortalidade, ou seja, a doutrina do juízo...

Transcreverei um excerto do Anticristo, onde se compreende o porquê do nazismo ter ido beber a Nietzsche: "Conceder a imortalidade a cada Paulo e Pedro foi até agora o maior e mais pérfido ataque à humanidade nobre. (...). Hoje, ninguém mais tem coragem do privilégios, dos direitos de dominação, do sentimento de reverência por si e pelos seus pares... (...) O aristocracismo foi minado, na sua dimensão mais subterrânea, pela mentira da igualdade das almas; e se a fá no «privilégio da maioria» constitui e constituirá revoluções, é o Cristianismo, são os juízos de valor cristãos, que traduzem toda a revolução simplesmente em sangue e em crime! O Cristianismo é uma insurreição de tudo o que rasteja pelo chão contra o que tem sublimidade: o Evangelho dos pequenos empequenece...

Querem outra: " O cristão esta ultima ratio da mentira, é uma vez mais o judeu- três vezes ele próprio..."

Nieztsche dá-nos algumas passagens, algo "evangélicas" da bíblia, segundo Nietzsche, palavras que foram colocadas na boca de Jesus: "Não julgues", dizem eles. Mas mandam para o inferno tudo o que se encontra no seu caminho.

" E se alguns vos não rceberem e ouvirem, saí dali e sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles. Em verdade vos digo, Sodoma e Gomorra serão no dia do juízo tratadas com menos rigor que essa cidade." Muito evangélico...

"Em verdade vos digo: há alguns aqui presentes que não morrerão antes de ver chegar o Reino dos Céus no seu poder." Será mesmo?

"Não julgueís para não ser julgado. Com a medida com que medirdes, vos será medido." Um juíz pouco integro...

"Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo". Todas as coisas, a saber: alimentos, vestuário, todas as necessidades da vida.

Passagem de Paulo: " Acaso não sabeis que os santos julgarão o mundo? E se é por vós que o mundo vai ser julgado, seríeis então ineptos para julgar as coisas mínimas?" Parece um discurso de um louco internado... mas prossegue:" Não sabeis que julgaremos os anjos? Quanto mais os bens temporais".

Enquanto o padre surgir como tipo superior de homem, esse negador, caluniador e envenenador da vida por profissão, não haverá resposta para a pergunta: o que é a verdade? Enquanto assim for a verdade estará virada de cabeça por baixo. O que um padre afirma verdadeiro, deverá ser certamente falso.

Querem saber o que arruina uma divindade: Quando ela se torna «coisa em si».

Isto são apenas alguns pensamentos de Nietzsche e do seu anticristo, aconselho quem questiona a doutrina da Igreja Católica a ler.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Os Piores

Foi criado há pouco tempo o site titanicawards.com, para o qual turistas e profissionais do turismo enviam os seus testemunhos sobre locais que visitaram, mas neste caso vêm testemunhar as suas piores experiências.

Os prémios provisórios em algumas categorias são os seguintes:

Pior low-cost: Ryanair (qual é a admiração?)
Pior cozinha: Reino Unido (comidas quase sem tempero? É tão bom ser tuga)
Piores casas-de-banho: China (haver lá casas de banho é uma sorte)
Piores souveniers: Estados Unidos da América (quem diria?)
Catedral mais sobrevalorizada: Notre Dame (sempre tive em boa conta o gótico)
Mais chata das Sete Maravilhas: Torre de Pisa (o pessoal bem espera que aquilo caia, mas nada)
Cidade mais mal-cheirosa: Nova Deli (qué frô?)

Santo Agostinho

Algumas frases de Santo Agostinho:

- Eu pecava, porque em vez de procurar em deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava-os nas suas criaturas: em mim e nos outros. Por isso, precipitava-me na dor, na confusão e no erro.

- E assim, apesar de estarmos doentes para alcançar a verdade com a transparência da razão e por isso nos ser necessária a autoridade dos Livros Santos(…)

- Contra vontade ninguém procede bm.

- Para aprender, é mais eficaz uma curiosidade espontânea que um constrangimento ameaçador.

- Há várias maneiras de sacrificar anjos a pecadores.

-O que importa é haver motivo para a alegria.

- Quem é fiel no pouco, é no muito.

- A vida é miserável e a hora da morte incerta.

- Quem ama o perigo, nele cairá.

- Uma alegria maior é precedida de uma dor maior.

- Conhecer Deus é conhecer-nos a nós próprios.


Pensamento de Santo Agostinho

“ Que amo eu, quando vos amo? Não amo a formosura corporal, nem a glória temporal, nem a claridade da luz, (…), nem a doce melodia das canções (…), nem o suave cheiro das flores dos perfumes ou dos aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão flexíveis aos abraços da carne.
Nada disto amo quando amo o meu Deus.
E contudo amo uma luz, uma voz, um perfume, um alimento e um abraço, quando amo o meu Deus, luz, voz, perfume e abraço do homem interior, onde brilha para a minha alma uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não arrebata, onde se exala um perfume que o vento não esparge, onde se saboreia uma comida que a sofreguidão não diminui, onde se sente um contacto que a saciedade não desfaz.
Eis o que amo, quando amo o meu Deus.”

Penso que esta passagem será a que melhor exemplifica o pensamento de Santo Agostinho, ou Agostinho de Hipona.

Ele foi o homem que inseriu as ideias platónicas na Igreja Cristã do Ocidente.

Santo Agostinho colocou na Igreja católica do Ocidente o conceito da elevação espiritual e da sabedoria, como o meio de chegar a Deus e à felicidade suprema.

Para Agostinho o mal não existia em si mesmo, o que existia era a ausência do bem que equivale ao nada, ou seja, se tudo o que é criado por Deus é bom (porque Deus só cria o bem), o mal não existe e tudo o que é mau não existe.

Agostinho procurava a verdade, utilizando a razão.

Numa altura em que o Império Romano do Ocidente se desmoronava a religião católica tinha sido aceite pelo imperador Constantino, o primeiro imperador cristão e fundador de Constantinopla, no Concílio de Niceia.

Para Agostinho, Deus revelou-se ao homem através do Verbo, sendo a Palavra tudo para Agostinho. É através da Palavra que Agostinho se aproxima de Deus e é através Dela, que quer aproximar o homem de Deus. O seu amor pelo Verbo poderá ter a ver com a circunstância de ter estudado gramática e eloquência, sendo um brilhante aluno, tornando-se mais tarde professor. Depois de ter lido a obra de Cícero, Hortensius, aprendeu a amar a filosofia e com a influência de Ambrósio, bispo de Milão, aproximou-se do cristianismo, com a obra de São Paulo converteu-se.

Embora Ambrósio seja o responsável pela aproximação de Agostinho à fé cristã, é interessante observar a diferente visão que tinham do meio de chegar a Deus. Se Ambrósio era um firme partidário da fé baseada na revelação, estando a sua posição ancorada na erudição e na referência recorrente aos clássicos gregos (uma visão do mundo que se estava a extinguir no séc. IV) desprezando a filosofia, Agostinho cria na filosofia para pensar criativamente no interior das crenças cristãs e dogmas da Igreja.

Ele é o criador da teoria do pecado original, Agostinho explica que o pecado original vem da fraqueza da alma (liberdade) e não do corpo, que já é impuro e imperfeito. Isto acontece porque Adão e Eva sucumbiram ao pecado, ao orgulho, ao amor-próprio e não amor de Deus. Assim sendo o pecado tem uma face hereditária e é da exclusiva responsabilidade do homem.

Sua mãe, Mónica, mais tarde canonizada e designada hoje por Santa Mónica, foi também de uma grande preponderância para a conversão de Agostinho ao cristianismo. Mónica era uma mulher extremamente devota para quem o facto de seu filho ser maniqueísta, ser uma razão para um sofrimento desmedido. Na altura da sua morte, disse a Agostinho que partia em paz pois sabia que o filho tinha obtido a salvação, através da conversão e baptismo.

Será importante também fazer um enquadramento histórico da era de Agostinho, pois Agostinho viveu numa era em que não só Roma declarava o cristianismo como a sua religião, mas também foi nesta altura, mais precisamente em 410, que os exércitos Godos comandados por Alarico, invadem Roma. Esta invasão serviu de pretexto para que os pagãos acusassem os cristãos por esta invasão, invocando a renúncia dos cristãos aos deuses clássicos como a causa da queda do Império, que há muito se vinha desmoronando.

Em Hipona Agostinho teve grande preocupação com as repressões que poderiam cair sobre os cristãos, centrando a defesa da Igreja católica contra a donatista. Foi nesta altura que Agostinho escreve uma das suas obras-primas, A Cidade de Deus, na qual defende a elevação da cidade espiritual (a de Deus) sobre cidade material (a do Homem).

Agostinho morre em 430, numa altura que a Hipona estava cercado pelas tropas de Genserico, e Roma tinha caído nas mãos dos povos bárbaros.

Como já escrevi Santo Agostinho acreditava que a razão e o pensamento filosófico, deveria ser a base da fé católica, só com estes pressupostos de poderia atingir Deus e consequentemente a felicidade.

A fórmula de Agostinho misturava filosofia, teologia e ontologia para obter um certo “espírito” que fala da actividade do homem no mundo e a sua relação com Deus. A sua fé embora firme não é cega, para isso ele usa a razão, para que através de um entendimento racional o homem consiga entender a natureza da sua relação com Deus. A mente, ou alma, como diz o pensamento agostiniano, é a ferramenta que Deus deu ao homem para O entender, e Agostinho pela primeira vez na história da humanidade faz essa viagem, da imanência psicológica à transcendência metafísica.

Seria importante nesta altura civilizacional, no Ocidente, que o homem buscasse neste santo algumas respostas e reflexões.

Numa altura em que no Ocidente se vive uma clara crise de valores e em que a cidade material se sobrepôs claramente à cidade espiritual, algo falhou no nosso mundo ocidental. A constante procura dos bens materiais a todo o custo, uma civilização que tende cada vez mais a confundir liberdade com direitos, deverá buscar em si uma profunda reflexão.

A civilização ocidental padece neste momento de uma enorme maleita, não apontarei o dedo ao consumismo directamente, mas no ocidente vive-se cada vez mais com o seguinte pensamento: “Se quero, tenho direito!”.

Temos de nos mentalizar que não temos o direito a tudo só porque o desejamos, não é só porque queremos algo que o temos de ter a toda a força. Este mal revela-se não só nos bens materiais, mas também nos imateriais.

Seria bom fazermos uma introspecção como nos pede Agostinho de Hipona, reflectir sobre o que necessitamos mesmo e o que é dispensável. Para isto a fórmula de Agostinho é hoje tão actual como o era no séc. V, baseado nos valores da bíblia e de Deus que são os pilares da civilização ocidental, fazermos uma viagem espiritual e perguntarmo-nos: “O que preciso mesmo para a minha felicidade?”.

Não andaremos a idolatrar falsos ídolos? Não estaremos embrulhados em muita coisa superficial? Não olhamos demais para nós e pouco para o mundo? Não desejamos muitas vezes algo que nos vai fazer deixar para trás a nossa verdadeira felicidade?

“ Ignorante, precipitava-me tão cegamente, que entre os companheiros da minha idade, me envergonhava de ser menos infame que eles. Ouvia-os jactarem-se de suas ignomínias e tanto mais se vangloriavam quanto mais depravados eram. Assim, praticava o mal não só pelo deleite da acção, mas ainda para ser louvado. (…) Se não cometesse pecado com que igualasse os mais corrompidos, fingia ter cometido o que não praticara, para que não parecesse mais abjecto quanto mais inocente, e mais vil quanto mais casto.”

Agostinho influenciou também grandes filósofos e pensadores como Nietzsche, Schopenhauer e Tomás de Aquino.
Este texto é escrito por um não-crente mas que gosta de pensar.