sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sherlock Holmes

Para quem gosta dos filmes de Guy Ritchie, e para quem não gosta, aqui está mais um belo filme do realizador.
Sherlock Holmes é um filme que prima por personagens pitorescas, o próprio Sherlock é uma grande interpretação do actor Rober Downey Jr.
Se, por exemplo no Rocknrolla, o realizador aproveitava a máfia russa e os seus tentáculos no sector da construcção em Londres, e fazia daqui a história do seu filme, neste filme Ritchie cria a história e depois mostra-nos aquilo que poderia ser o inicio do uso de armas químicas, a espionagem e contra-espionagem e a corrida às novas tecnologias como meio de aperfeiçoamento bélico.
Mais uma vez num filme de Guy Ritchie as cenas de luta são do melhor que podemos ver no cinema e os diálogos são óptimos, ao nível dos melhores de Tarantino e apimentados com uma boa dose de humor.
Um filme a ver.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O Homem Elefante

O monstro é assustador, vive enclausurado e só serve para matar a curiosidade dos homens.
O monstro é disforme e com uma figura assustadora.
O monstro recita a biblia sagra e adora Shakespeare.
O monstro socializa e faz amigos.
O monstro adora o dia e destesta a noite.
O monstro é explorado por outros
O monstro é aterrorizado durante a noite e encanta durante o dia.
O monstro vai ao teatro e é aplaudido de pé.
Os monstros somos nós e afinal ele apenas quer ser como nós.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Carta aos socialistas

Hoje muito atacada pela direita e pela esquerda mais extremista em Portugal, a esquerda sofre um processo de renovação e de regeneração.
Longe da antiga ideia comunista que afirmava o Estado como o grande controlador da economia e da sociedade, a esquerda de hoje foi profundamente influenciada pela queda do Muro de Berlim. A queda do Muro não foi apenas a queda simbólica do regime, foi a prova viva de qual a diferença entre as duas ideologias reinantes e qual aquela que criava melhores condições de vida aos seus cidadãos. Neste confronto o capitalismo ganhou o combate por KO, mas também o ganharia aos pontos.
Perante este facto mais que evidente, coube a partir desse momento à esquerda reorganizar a sua ideologia. No entanto nem toda a esquerda se reorganizou, pelo menos em Portugal, onde continua a existir o último partido comunista estalinista da União Europeia, com os seus defeitos e as suas virtudes, e surge um partido da esquerda Trotskista, o Bloco de Esquerda, mais perto da esquerda moderna.
Ao ter isto em mente pensei: "Afinal, o que é a esquerda hoje em dia?". Foi assim que deparei com um livro de Alain Touraine, Carta aos Socialista.
Neste livro o autor aponta um caminho para a esquerda. Ora sabendo que a "direita" triunfou e que esta pode trazer efectivamente riqueza e melhores condições de vida às pessoas, o autor aponta a uma nova ideologia de esquerda que equilibre a "revolução liberal" que aprofunda assimetrias entre índividuos mais desfavorecidos e as camadas mais favorecidas da sociedade. Alain Touraine revela-nos que no seu entender os cidadãos já não se encontram de costas para a sociedade liberal como estavam no famoso Maio de 68, os cidadãos (especialmente os jovens) reclamam uma oportunidade para fazer parte desta sociedade. Assim Touraine, aponta a defesa do Individuo e as diferenças existentes entre estes e o recurso à solidariedade da nova esquerda como um caminho a seguir para oferecer esta oportunidade às pessoas.
Estas ideias devem acentar em 4 pontos:
1- O emprego em vez do aumento de salários.
"(...) Se queremos lutar contra a exclusão e reconstruir o tecido social, os progressos da produtividade devem servir para o aumento do emprego através da redução do tempo de trabalho pessoal com manutenção de salário, e já não para aumentar os salários reais. A luta contra a exlusão deve ter prioridade sobre a melhoria do nível de vida dos empregados. (...) Esta mudança de modelo económico -social é relativamente fácil de concretizar numa sociedade em que os ganhos de produtividade são da ordem de 2% ao ano e em que o custo da assistência aos desempregados é elevado."
2- Abrir a sociedade
"(...) é necessário aceitar o Outro tal como ele é, com a sua cultura, mais do que por aquilo que ele faz, na medida em que a situação não lhe permite fazer. Se nós não reconhecermos a identidade daqueles que esperam diante de uma porta apenas entreaberta, acabaremos por lançá-los, mesmo sem eles quererem , nos braços daqueles que usam o argumento cultural para levar a cabo a sua própria estratégia de poder."
3- Repensar a escola
"No fundo, a melhor escola, tal como a melhor cidade, é aquela que sabe pôr em contacto os individuos mais diversos. Quanto menos homogénea for a escola, social e culturalmente, melhor conseguirá desempenhar o seu papel de despertar das personalidades, que se formam através da comunicação e não através de repetição de códigos geradores de distância e de hierarquia.(...) não é de uma reforma que necessitamos, mas de liberdade, de capacidade de iniciativa, o que não deve de modo algum ser confundido com uma concepção mercantil do ensino universitário."
4- A igualdade entre homens e mulheres
Embora muito possa ser discutida e muita ideia explicitada no livro não ter a minha aceitação, estes serão os parâmetros que terão de ser seguidos pela nova esquerda.
Deixo-vos com uma frase bem humorada da obra:"O que é hoje a esquerda? É a revolta do indivíduo contra o Estado."

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Fúria

Li à pouco tempo o livro Fúria de Salman Rushdie, de referir que que Rushdie é o meu escritor favorito.
Fazendo uma pesquisa nas prateleiras da biblioteca da Mealhada para ver se encontrava um livro que me desafiasse para a leitura, eis então que me surge no horizonte visual o livro de Rushdie. O livro apresenta-se como estando ao nível de Ulisses de James Joyce. Mesmo adorando Rushdie, desconfiei desta comparação, mas decidi arriscar nesta aventura literária, sim aventura, ler Rushdie é para mim uma aventura.
O livro conta a história de Malik Solanka, um professor à procura de um rumo para a sua vida, procurando este rumo em Nova York, a cidade onde desembarca tudo o que a nossa sociedade contemporânea fabrica, desde o material ao espiritual e onde todas as culpas e ódios do mundo acabam por desaguar.
Solanka é o homem contemporâneo em busca de si próprio na grande metrópole Nova Yorkina, que vai encontrar as respostas ás suas questões no amor de uma mulher e numa nação em guerra, do outro lado do mundo.
O livro descreve muito bem a cidade e o misto cultural que lá vive, as guerras que se formam entre as diferentes etnias. É um retrato cruo, sombrio e perturbador da nossa sociedade, que nos faz perguntar para onde caminhamos.
"(...) o verdadeiro problema eram os danos não da máquina mas do coração desejoso, e a linguagem do coração estava a perder-se. A questão era um excesso de danos do coração, não a tonificação dos músculos, não a comida, nem o feng shui nem o karma, nem a impiedade nem Deus. Era esta Doença dos Nervos que deixava as pessoas ensandecidas: excesso não de bens de consumo mas de esperanças desfeitas e frutradas. Aqui na América (...) as expectativsas humanas nunca tinham estado tão altas na história humana, e o mesmo acontecia, é claro, com as decepções humanas. Quando incendiários punham o Oeste a arder, quando um homem pegava numa espingarda e desatava a matar amigos, (...) esta decepção era demasiado fraca, era o motor que dirigia a expressividade-de-língua-presa dos assassinos. Este era o único tema: o esmagar de sonhos numa terra em que o direito a sonhar era a pedra angular da ideologia nacional (...)"
  • "A perfectibilidade do Homem não é mais, poder-se-ia dizer, que uma piada de mau gosto de Deus";
  • "O Estado não pode fazer-nos felizes (...) não pode tornar-nos pessoas boas ou curar-nos de um desgosto de amor. O Estado gere escolas, mas será que pode ensinar os nossos filhos a gostar de ler, ou será essa nossa função? Há um Serviço Nacional de Saúde, mas que pode ele fazer em relação à enorme percentagem de pessoas que vai ao médico precisar? Há bairros sociais, claro, mas a boa vizinhança não é uma questão governamental.";
  • "Se a cultura era o novo secularismo do mundo, então a nova religião era fama e a indústria- ou melhor, a Igreja,- da celebridade viria dar trabalho sério a uma nova ecclesia, uma missão de proselitismo destinada a conquistar esta nova fronteira, (...) desenvolvendo novos combustíveis a partir da má-língua e levando os Escolhidos até às estrelas.";
  • "Há uma nova hipersensibilidade cultural, um modo quase patológico de ofender.";
  • "Viver na metrópole era saber que o excepcional era tão comum como um refrigerante sem açúcar, que a anormalidade era a norma da pipoca.";
  • "(...) a ignorância, desde que apoiada numa quantidade suficiente de dólares, se tornava sabedoria.";
  • "Uma cidade de meias-verdades e ecos, que domina, vá-se lá saber como, a Terra.";
  • " O Paraíso, era um lugar de que só as pessoas com mais pinta e mais massa em Nova Iorque possuiam o número secreto.";
  • "A necessidade de a América, tornar as coisas americanas, era a marca de uma estranha insegurança.";
  • "Quando os vivos chegam a acordo dentro de si mesmos em estarem mortos, então começa a fúria tenebrosa. A fúria tenebrosa da vida, recusando-se a morrer antes do tempo destinado.";
  • "Qualquer americano que se preze conhece os nomes, pelo menos, de meia dúzia de medicamentos eficaz na gestão de humores."